Indígenas Kamakãs querem investir na agricultura com dinheiro do Programa de Transferência de Renda, gerenciado pela FGV Projetos.
Uma grande sala de aula a céu aberto foi montada dentro da Aldeia Kamakã Kaê Há Puá, em Esmeraldas, Minas Gerais, para falar sobre educação financeira. Beneficiados pelo Programa de Transferência de Renda (PTR), gerenciado pela FGV Projetos, os indígenas da comunidade foram orientados a respeito do melhor uso do dinheiro, a fim de torná-lo um gerador de renda futura.
"O PTR é um programa que tem começo, meio e fim. Nossa preocupação é como essas pessoas vão se sustentar sem o benefício. É por isso que lançamos essa iniciativa inédita de levar conhecimento financeiro à aldeia, para que eles pensem em como esse dinheiro pode ser empregado para que continue gerando renda", explicou André Andrade, gerente executivo da FGV Projetos.
A aula foi ministrada pelos professores da FGV, Claudia Yoshinaga e Henrique Castro, que prepararam, especialmente para a ocasião, uma cartilha com linguagem fácil sobre questões econômicas do dia a dia. Acompanhados de alunos da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP), os professores fizeram uma visita à aldeia, no dia anterior, para conhecer o local e conversar com os moradores. Já no primeiro encontro, ouviu as histórias dos indígenas, suas principais queixas e dúvidas sobre o assunto. No dia 13 de dezembro, eles apresentaram conceitos como crédito, juros, poupança, reserva de emergência, além de dicas de como economizar e investir.
A indígena Elisabete Oliveira, de 40 anos, disse que vai começar desde já a colocar em prática os ensinamentos dos professores:
"Quem não gosta de gastar? Só é ruim quando acaba. Mas chegava ao fim do mês, não tinha dinheiro e sobrava dívidas. Vou passar a anotar tudo que gasto num caderninho e deixar uma pouco na poupança", disse.
A cacica da aldeia, Marinalva Maria de Jesus, pretende usar o dinheiro para investir numa farinheira automática. Hoje, todas as etapas da produção à base de mandioca – principal meio de subsistência dos Kamakãs, é feita de maneira manual, o que torna o processo mais lento. A raiz é responsável pela produção de farinha, beiju e polvilho, entre outras iguarias, usadas tanto para consumo próprio como para a venda. Os indígenas também se sustentam da comercialização de artesanatos.
Antes da tragédia de Brumadinho, os Kamakãs também se alimentavam dos peixes do rio que corta a região. Hoje, porém, a água barrenta deixou de fornecer uma das fontes de alimentação dos indígenas, que ficaram ainda mais dependentes da ajuda de organizações filantrópicas:
"A gente dependia muito de doações de cestas básicas. Com o PRT, ganhamos autonomia de ir ao mercado e escolher os produtos. Mas esse aumento de renda é temporário. Por isso, precisamos pensar numa solução coletiva. A farinheira vai nos ajudar a continuar a caminhar com nossas próprias pernas. Vamos investir também nos artesanatos para que eles cheguem a outros países", disse a cacica.
Origem da notícia: PTR oferece aulas de educação financeira para indígenas atingidos por rompimento de barragem de Brumadinho | Portal FGV